O Rei (The King, Netflix 2019)
Quantas vezes vocês, jogadores, já criaram personagens
herdeiros? Quantas gerações de nobres guerreiros e terríveis conquistadores
caíram sobre os ombros jovens de seus heróis?
Como jogadores, por vezes temos a sede de ser os
protagonistas da narrativa, e assim, damos a personagens iniciantes muito mais
responsabilidade do que seria sábio.
Recentemente voltei a assistir o filme O Rei, produzido pela
Netflix, que conta a trajetória de Henry V, rei da Inglaterra e pretendente ao
trono da França durante a Guerra dos Cem Anos.
Não vou entrar na questão histórica e nem no roteiro, onde
existem furos e licenças poéticas, esse não é meu objetivo. O filme, porém, serve
como um divertido exemplo de como usar um personagem, ou grupo deles, como
nobres em uma aventura.
Deus Salve o Rei!
Quando criamos um personagem, é comum lhe atribuir
protagonismo, afinal, ali está nossa persona fantástica. Se você nunca assistiu
ou leu uma obra onde um corajoso herdeiro luta por seu direito, você além de
não ter alma (alerta de piada ruim), está perdendo fontes de inspiração
interessantes.
A dica aqui, para mestres e jogadores, é usar a
responsabilidade, ou a falta dela, e suas consequências como força motriz das
intrigas palacianas e aventuras externas do grupo.
No filme citado, o jovem rei carrega uma coroa não desejada
rumo a uma guerra travada desde muitas décadas antes de seu nascimento. O peso
de sua responsabilidade o leva a decisões difíceis e com consequências duras
durante toda a trama.
O jogador que deseja interpretar um herdeiro apenas por seu
poder e influência tem muitas chances de estar criando um déspota tirano, que o
narrador poderá em algum momento revelar como um dos grandes vilões do cenário.
Quando um jovem hedonista gasta fortunas em banquetes ou em
equipamentos, esse dinheiro vem de uma fonte, normalmente impostos de seus
súditos cansados e famintos. Quando essas ações vêm sem consequência, o
personagem se afunda cada vez mais em decisões sombrias que destroem sua
herança e futuro, gerando um personagem profundo, porém asqueroso.
Em contrapartida, quando o herdeiro desde o início da
narrativa é posto rente à frente com provações, sejam impostas por outros
nobres, ou seu próprio pai/mãe, sua personalidade cresce de forma a colocar
suas decisões beneficiando aqueles que dependem mais dele: o povo.
Quando o herdeiro, que partiu em busca de mais riquezas a
seu povo encontra uma espada mágica e decide enviá-la como presente ao feudo
vizinho, em troca de uma aliança, a responsabilidade, a nobreza, do personagem,
está aflorando.
Aqui, a máxima é ação e consequência. As ações e decisões de
um herdeiro devem sim repercutir e até certo ponto, serão cruéis a ele e aos
que o acompanham.
Como narrador, não tenha medo de explorar o cenário para
aprofundar a relação dos personagens com o mesmo. E ao jogador, não se acovarde
em interpretar aquele príncipe que idealizou quando garoto, certamente a
experiência vai fazê-lo um jogador ainda mais audacioso.
Por hoje é só, logo volto com mais desses temas malucos das
vozes na minha cabeça. Abraço gente, bons críticos a todos.

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