segunda-feira, 12 de agosto de 2024

Resenha: Teoria do Jogo

Recentemente, terminei uma leitura mais acadêmica sobre jogos com o intuito de me apropriar mais do assunto e começar a discutir sociologicamente a experiência do jogar. Como quero compartilhar mais coisas neste espaço, vou deixar aqui a resenha da leitura que fiz.


Teoria do Jogo, de autoria de Jeferson Retondar, publicado pela editora Vozes, é um livro excelente para iniciar no estudo acadêmico dos jogos. De forma panorâmica, o autor aborda o jogo como um componente da vida, revelador da subjetividade e apresenta conceitos da  literatura clássica na área do estudo dos jogos.

O livro em seis partes: a primeira sendo a introdução, onde o autor esclarece o escopo do livro e esclarece algumas abordagens a segunda sendo aquela que traz uma definição básica sobre o que é o jogo e suas características e a relação disso com o próprio jogar e com aqueles que jogam. É nessa sessão em específico que trechos interessantes levam o leitor a refletir de forma profunda sobre elementos do jogo, como ilustra bem a seguinte parte:


as regras no jogo servem para mediar as relações intersubjetivas e não determinar a conduta dos jogadores […] o jogo pode iniciar de uma maneira e, no decorrer do jogo, assumir novas formas, com incorporações ou supressões de regras […]

No jogo as regras podem e devem ser adaptadas às diversas circunstâncias […]  


Já na terceira parte, se pode ler uma tipologia de classificação dos jogos, definindo-os como de competição, de sorte, de simulacro e de vertigem. Aqui, apreende-se o que é cada um desses jogos e como se pode identificá-lo. Um leitor atento, contudo, bem como aquele familiarizado com RPGs, perceberá que há jogos que misturam características de diversos tipos. Na quarta parte, o autor apresenta uma discussão sobre a formação do sujeito, a educação e o jogo, debatendo, com isso, características já apresentadas, isto é, a voluntariedade, as regras, a relação espaçotemporal e a evasão da realidade dentro do jogo. 

Na quinta parte, em suas considerações finais, Retondar constrói um elogio ao jogo, chamando a atenção para seu uso na formação de seres humanos éticos e ressaltando o lugar do jogo enquanto produção social e cultural universal. Em suas palavras, “O jogo é produto e produtor de sentidos […] E aí o espaço do jogo é um dos espaços possíveis de aprendizagem e de crescimento. Por fim, na sexta parte estão as referências bibliográficas. 

Com uma linguagem acessível e didática, Jeferson Retondar apresenta um livro que, ancorado nos clássicos Huizinga e Caillois, é um convite para o início das discussões sobre o jogo e sobre o ato de jogar. Por meio da leitura, se toma consciência que o impulso lúdico, inerente ao jogo, Como diz Schiller, citado pelo Retondar, é o impulso capaz de conciliar o impulso sensível ( nossas determinações emocionais e físicas) com o impulso do inteligível (nossas determinações racionais e de controle da realidade), sem produzir qualquer tirania ou sobredeterminação de um em relação ao outro. 

Com este e demais apontamentos, o livro apresenta a interpretação, embasada de forma robusta, do jogo como uma linguagem, um fenômeno social, enraizado na cultura e com implicações identitárias. Em resumo, Retondar aponta para o jogo como uma atividade simbólica, com um sentido particular e capaz de particularmente dotar de sentido a realidade que cerca os seres humanos. 


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